Vaga de poeiras entre sexta e sábado em Portugal Continental
O movimento favorável da atual depressão atmosférica vai proporcionar uma subida em latitude de uma massa suspensa de poeiras de África. Esta será uma das maiores concentrações de poeiras a atingir Portugal Continental dos últimos 6 meses.
A vaga de poeiras de África é um fenómeno natural caracterizado pela deslocação de enormes quantidades de partículas de poeira do deserto do Saara, em África, através do Atlântico e até regiões distantes, incluindo a Europa, o continente americano e até mesmo as Caraíbas.
O Saara, o maior deserto quente do mundo, cobre cerca de 9 milhões de quilómetros quadrados e é uma das principais fontes de poeira atmosférica do planeta. A poeira formada nesta região contém minerais, partículas de areia e outros elementos naturais que, ao serem levantados pelos ventos fortes, são transportados para a atmosfera. Esta poeira pode atingir altitudes de milhares de metros e viajar milhares de quilómetros graças às correntes de ar que se formam durante o ano. A deslocação das poeiras saharianas para regiões tão distantes é impulsionada pelos ventos alísios e pela circulação atmosférica global, sendo um processo complexo e interligado com diversos factores meteorológicos.
Um dos aspectos mais visíveis da vaga de poeiras do Saara é o impacto no céu. Quando uma vaga de poeiras atinge uma determinada região, é comum observar um céu mais opaco e uma redução da visibilidade. As partículas em suspensão causam uma espécie de nevoeiro amarelado ou acastanhado, o que afecta a luminosidade e a intensidade da luz solar que chega à superfície. Este fenómeno pode ser particularmente marcante durante o pôr e o nascer do sol, quando este assume uma tonalidade avermelhada ou alaranjada. Em algumas regiões da Europa, como Portugal e Espanha, a chegada de poeiras saharianas pode resultar em episódios de “chuva de lama”, uma situação em que as partículas de poeira misturam-se com a precipitação, deixando marcas amareladas ou acastanhadas em superfícies expostas, como veículos e janelas – situação que se irá verificar esta sexta feira em algumas regiões do país.
Poeiras visíveis na atmosfera – Edgar Pereira
O impacto ambiental da vaga de poeiras saharianas também é notável. A poeira transportada do Saara contém nutrientes como fósforo, ferro e cálcio, que são essenciais para diversos ecossistemas, especialmente os oceânicos. Quando a poeira se deposita no oceano, particularmente no Atlântico, os nutrientes presentes nas partículas estimulam o crescimento de fitoplâncton, organismos microscópicos que são a base da cadeia alimentar marinha. O fitoplâncton utiliza estes nutrientes para realizar fotossíntese, produzindo oxigénio e servindo de alimento para várias espécies de peixes e outros organismos marinhos. Este processo contribui, assim, para a manutenção da biodiversidade marinha e para a saúde dos ecossistemas oceânicos.
Outro impacto significativo da vaga de poeiras de África é na saúde pública. As partículas de poeira sahariana podem ser prejudiciais para a saúde respiratória, especialmente em pessoas com condições pré-existentes, como asma e bronquite crónica. As partículas finas, conhecidas como PM10 e PM2.5, conseguem penetrar nas vias respiratórias e, em alguns casos, atingir os pulmões, causando irritação e agravando problemas respiratórios. Em situações de maior concentração, as autoridades de saúde emitem alertas para que a população tome precauções, como reduzir atividades físicas ao ar livre e evitar a exposição prolongada à poeira. Além dos problemas respiratórios, as partículas de poeira também podem causar irritação nos olhos e na pele.
O que nos mostram os modelos?
As poeiras deverão chegar ao Sul do país a partir da manhã de sexta, progredindo para o restante território ao longo do dia, mantendo-se até ao final do dia de sábado. Esta situação será conjugada com uma agravamento das condições meteorológicas no Centro e Sul, com previsão de aguaceiros fortes e trovoada.
A temperatura máxima vai voltar a subir.
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