Poeiras de África
As tempestades de areia e poeira resultam de intensos gradientes de pressão os quais, por sua vez, são responsáveis por ventos fortes. O vento forte, persistindo sobre extensas zonas áridas ou semiáridas e montanhosas, levanta para a atmosfera grandes quantidades de areia e poeira a partir de solos nus e secos, transportando-os por centenas ou mesmo milhares de quilómetros de distância.
Em Portugal, nos ultimos anos, tem-se observado cada vez mais episódios de poeiras em suspensão na atmosfera oriundas do norte de África transportadas diretamente do deserto do Sahara, o maior deserto quente do mundo. Este aumento da frequência dos episódios de poeiras a que assistimos deve-se a alterações na circulação atmosférica na zona da Peninsula Ibérica, que têm sido responsáveis pela formação de depressões centradas em latitudes próximas da Península Ibérica e/ou do norte de África, com fortes ventos associados e cuja direção desses ventos (geralmente de sul/sueste/leste) é favorável ao transporte de quantidades de poeiras em suspensão na atmosfera. Quando as concentrações na atmosfera são elevadas e as condições são favoráveis à ocorrência de precipitação, verifica-se a chamada “chuva de lama”, onde existe a deposição das poeiras à superfície. Nestas situações é possível observar o céu com uma tonalidade mais acastanhada, como ilustrado na seguinte imagem:
Fig. 1 : Episódio de elevada concentração de poeiras de África na cidade de Lisboa.
Por vezes, as concentrações das poeiras em suspensão são tão elevadas que podem ter um impacto significativo na saúde da população, em particular o desenvolvimento de problemas respiratórios ou alergias. Deste modo, é sempre muito importante seguir os conselhos das autoridades de saúde sempre que se prevejam este tipo de fenómeno natural.
Este fenómeno ocorre principalmente devido aos ventos vindos do sul ou sudeste que trazem partículas de poeira do deserto do Saara. Esses eventos podem ocorrer em qualquer altura do ano, mas são mais frequentes na primavera e no verão, quando as condições meteorológicas favorecem o transporte dessas partículas para a Península Ibérica. No outono, este fenómeno não é anormal, uma vez que possíveis depressões isoladas poderão favorecer o transporte de poeiras.
Artigo escrito por André Silva, no dia 22/07/2024.
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