A chegada dos primeiros frios
Com a chegada de novembro, os primeiros frios começam a fazer-se sentir em Portugal continental, marcando o início da transição para o inverno. Este fenómeno é típico nesta época do ano, sendo influenciado por uma série de fatores meteorológicos que resultam na descida das temperaturas e na alteração das condições atmosféricas.
A partir de meados do verão, Portugal começa a experimentar uma menor quantidade de radiação solar devido à inclinação do eixo da Terra em relação ao Sol. À medida que o outono avança, o hemisfério norte recebe menos luz solar, o que provoca uma redução nas temperaturas. A diminuição da insolação resulta em dias mais curtos e noites mais longas, favorecendo o arrefecimento atmosférico.
A circulação atmosférica global também contribui para a chegada do frio em outubro ou novembro. Com a aproximação do inverno, massas de ar frio provenientes do Atlântico Norte e do continente europeu começam a deslocar-se para latitudes mais baixas. Estas massas de ar, geralmente associadas a sistemas de alta pressão, são responsáveis por trazer o ar frio polar até à Península Ibérica. Quando estes sistemas de alta pressão se estabelecem a norte de Portugal, bloqueiam o ar quente e criam condições para a entrada de ar mais frio e seco.
Queda de neve na Serra de Montemuro em março de 2024 – Aurélio Vieira
As correntes de jato, fluxos de vento de alta altitude que circulam a grande velocidade, têm um papel fundamental na regulação das condições meteorológicas na Europa. Durante o outono, as correntes de jato tendem a deslocar-se mais para sul, empurrando sistemas de baixa pressão para regiões mais ao norte de Portugal. Este movimento permite a passagem de frentes frias e massas de ar polar para latitudes inferiores, o que resulta numa queda acentuada das temperaturas.
A análise de fatores…
O anticiclone dos Açores, uma área de alta pressão situada no Atlântico Norte, tem um papel fundamental no clima da Península Ibérica. Em novembro, o anticiclone assume muitas vezes uma posição que favorece a entrada de frentes frias vindas do norte, permitindo a chegada de massas de ar polar. Este sistema de alta pressão também influencia a circulação de ventos em direção a Portugal, que podem trazer ar seco e frio para a região, aumentando a sensação térmica de frio.
A frente polar, uma zona de transição entre o ar quente subtropical e o ar frio polar, tende a aproximar-se de Portugal nesta época do ano. Esta frente traz consigo instabilidade atmosférica e precipitação, muitas vezes acompanhadas de uma queda acentuada das temperaturas. As massas de ar marítimas, provenientes do Atlântico Norte, podem transportar ar húmido e frio, resultando em tempo chuvoso e temperaturas reduzidas (no inverno).
A topografia de Portugal também influencia as condições de frio em novembro. As serras, como a Serra da Estrela ou Gerês, atuam como barreiras naturais que forçam as massas de ar a subir, causando arrefecimento e precipitação. Nas regiões mais altas, as temperaturas podem descer rapidamente, favorecendo a formação de neve. Em contraste, as áreas mais baixas, como o Alentejo, podem experimentar temperaturas mais amenas devido à menor altitude e ao efeito moderador do Atlântico (em situações sem inversão térmica).
O que é a inversão térmica? Acontece com muita frequência!
A inversão térmica é um fenómeno atmosférico que ocorre quando a temperatura do ar aumenta com a altitude, em vez de diminuir, como é habitual. Em condições normais, o ar quente, mais leve, tende a subir, enquanto o ar mais frio, por ser mais denso, permanece próximo ao solo. No entanto, durante uma inversão térmica, uma camada de ar frio fica “presa” sob uma camada de ar quente, impedindo a sua circulação vertical. Por outras palavras, a inversão térmica acontece quando o ar frio fica preso perto do solo, debaixo de uma camada de ar quente, em vez de se misturar com o ar à sua volta. Normalmente, o ar quente tende a subir e o ar frio fica mais perto do chão, mas, na inversão térmica, esta ordem inverte-se.
Durante a noite, o solo perde calor rapidamente através da radiação térmica, especialmente em noites claras e estáveis, um processo chamado de “radiação noturna”. Este arrefecimento rápido faz com que o ar próximo à superfície também arrefeça, enquanto o ar um pouco mais alto permanece relativamente mais quente. Isso cria uma camada de inversão térmica, onde o ar frio fica junto ao solo e o ar mais quente fica por cima, impedindo a circulação normal do ar.
Em zonas montanhosas, o ar frio tende a “deslizar” para vales e regiões mais baixas, onde fica aprisionado sob o ar quente. Esta inversão pode durar várias horas ou até mesmo dias, dependendo das condições meteorológicas.
Além disso, em regiões com sistemas de alta pressão, ocorre o que se chama de “subsistência atmosférica”: o ar desce lentamente, comprimindo-se e aquecendo enquanto desce, criando uma camada de ar quente. Esta camada impede que o ar frio próximo ao solo suba, intensificando a inversão térmica e mantendo a poluição próxima ao chão, especialmente em áreas urbanas.
Em Portugal, há diversos locais onde o fenómeno de inversão térmica resulta em vales com temperaturas muito baixas, frequentemente abaixo de 0°C, enquanto áreas de montanha próximas, a uma altitude ligeiramente superior, registam temperaturas bem mais amenas, muitas vezes acima dos 10°C. Estes episódios são comuns em regiões de relevo acentuado, especialmente no interior do país, durante o outono e o inverno.
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