Tempo frio e persistente sem previsão de chegada
Não há, para já, previsão para tempo frio e persistente em Portugal Continental (pelo menos durante os próximos 8 dias).
Dezembro está quase a começar e as temperaturas, principalmente durante o dia, mantêm-se muito acima da média em diversas regiões de Portugal Continental.
As atuais tendências dos modelos meteorológicos não indicam a chegada de nenhuma massa de ar frio de relevância significativa, pelo menos durante os próximos 8 dias. A ausência de ar frio em altitude (e consequentemente à superfície) é consequência do predomínio de massas de ar ameno vindas de Sul.
Apesar das temperaturas geralmente acima da média, esta situação já aconteceu anteriormente, com a chegada do tempo frio entre dezembro e janeiro (por vezes de forma abrupta).
Os próximos 8 dias serão, portanto, marcados por temperaturas geralmente dentro ou acima da média para a altura do ano.
A demora na chegada das massas de ar frio a Portugal, especialmente durante o mês de novembro, resulta de uma complexa interação entre fatores geográficos, padrões atmosféricos e oscilações climáticas. O território português, com a sua localização estratégica entre o Oceano Atlântico e o continente europeu, encontra-se numa encruzilhada meteorológica única que frequentemente impede a penetração rápida de ar frio. Este fenómeno é amplificado por dinâmicas atmosféricas como as correntes de jato e a Oscilação do Atlântico Norte (NAO).
A localização de Portugal, relativamente perto das latitudes subtropicais, torna-o suscetível à influência das massas de ar quente e húmido provenientes das regiões do Atlântico Sul e do Norte de África. Estas massas de ar, transportadas por sistemas de alta pressão sobre os Açores, mantêm as temperaturas elevadas durante o início do outono e até mesmo no final desta estação. Em anos onde estas condições se prolongam, as massas de ar frio oriundas do norte enfrentam maiores dificuldades para penetrar na Península Ibérica.
Ao contrário de países como a França ou a Alemanha, que recebem diretamente o impacto das massas de ar frio do norte e do leste, Portugal é protegido por duas barreiras naturais: o maciço central da Península Ibérica e o mar. O maciço montanhoso espanhol atua como um bloqueador parcial das frentes frias que chegam do leste europeu, enquanto o oceano, com o seu efeito térmico, suaviza as temperaturas, mesmo quando massas de ar polar conseguem atravessar as barreiras atmosféricas.
A corrente de jato polar é a principal responsável pela separação entre o ar frio do Ártico e o ar mais quente das latitudes médias. Quando esta corrente está forte e bem posicionada, ela empurra as massas de ar frio para latitudes mais baixas, incluindo a Península Ibérica. Contudo, em anos recentes, o comportamento irregular da corrente de jato tem resultado em bloqueios atmosféricos que atrasam ou impedem a chegada do frio a Portugal. Estes bloqueios são frequentemente causados pela formação de áreas de alta pressão sobre o Atlântico, que desviam as massas de ar frio para outras regiões, como o leste da Europa.
Para Portugal, isto significa que a chegada do frio depende cada vez mais de padrões atmosféricos favoráveis. Em anos em que a corrente de jato permanece demasiado a norte ou assume uma configuração ondulada que desvia o ar frio para outras partes da Europa, as massas de ar frio demoram muito mais a alcançar o país. Este fenómeno também contribui para o prolongamento de períodos de temperaturas anormalmente elevadas, como temos observado em alguns meses de novembro (não nos mais recentes).
A Oscilação do Atlântico Norte (NAO) é um padrão climático fundamental que descreve a diferença de pressão atmosférica entre a região da Islândia e o arquipélago dos Açores. Este índice desempenha um papel crucial na definição da direção e intensidade dos ventos predominantes sobre o Atlântico Norte, com impactos significativos no clima de Portugal. As flutuações da NAO entre as suas fases positiva e negativa têm implicações diretas na chegada, ou atraso, das massas de ar frio ao território português, especialmente durante o outono e o início do inverno. Quando a NAO está numa fase positiva, caracteriza-se por uma pressão atmosférica elevada sobre os Açores e baixa sobre a Islândia. Este padrão gera ventos de oeste mais fortes, que transportam ar marítimo quente e húmido para a Europa Ocidental. Em Portugal, a fase positiva da NAO traduz-se em temperaturas amenas para a época, já que a influência marítima predomina e bloqueia eficazmente a entrada de massas de ar frio provenientes do norte ou do leste europeu.
Esta configuração é particularmente comum nos meses de outono e início do inverno, atrasando a chegada de condições típicas da estação mais fria e mantendo temperaturas acima da média. Este fenómeno é reforçado pela atuação de sistemas de alta pressão que dominam as regiões atlânticas, dificultando a movimentação de frentes frias até latitudes mais baixas. Por outro lado, a fase negativa da NAO ocorre quando a pressão atmosférica nos Açores diminui e os ventos de oeste enfraquecem. Este padrão permite que sistemas de baixa pressão se desloquem para latitudes mais baixas, abrindo caminho para a entrada de massas de ar frio polar na Península Ibérica. Durante esta fase, Portugal pode experienciar quedas abruptas de temperatura e o início mais precoce de condições invernais.
As oscilações irregulares da NAO nos últimos anos têm demonstrado uma predominância da sua fase positiva durante novembro, o que explica, em grande parte, a manutenção de temperaturas superiores à média para esta época. Este padrão reflete um desfasamento no início das condições invernais típicas, prolongando períodos de calor e afetando não só a sensação térmica como também atividades dependentes da meteorologia, como a agricultura e a gestão de recursos hídricos. Este comportamento irregular é uma das principais razões pelas quais as massas de ar frio têm demorado mais a chegar a Portugal, deixando evidente a influência marcante da Oscilação do Atlântico Norte no clima do país.
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