Possibilidade de trovoada nos próximos dias
Uma depressão isolada em altitude localizada a sudoeste de Portugal Continental, provocará condições de instabilidade ao longo dos próximos dias – será o início da época das trovoadas de primavera.

Esta quinta feira será marcada por períodos de céu nublado, poeiras em suspensão e condições favoráveis para a formação de trovoada e aguaceiros fortes a partir da tarde ou início de noite, especialmente na Área Metropolitana de Lisboa, Algarve e Litoral Alentejano.
Espera-se uma descida generalizada da temperatura máxima.
A partir do final da tarde e ao longo da noite e madrugada, a possibilidade para a formação de trovoada aumentará, especialmente no Centro e Sul.

Na sexta feira, a instabilidade deverá manter-se, com possibilidade de trovoada e aguaceiros em qualquer parte do território continental, e descida da temperatura máxima.
Entenda mais sobre as trovoadas da primavera
Em Portugal, especialmente durante os meses mais quentes do ano, é comum a ocorrência de trovoadas associadas ao calor intenso e à presença de uma depressão atmosférica isolada em altitude (também conhecida por cut-off low ou gota fria).
Estas situações ocorrem quando uma massa de ar muito quente e húmido à superfície é sobreposta por ar frio em altitude, normalmente devido à aproximação de uma depressão isolada nos níveis médios e altos da atmosfera. Esta diferença de temperatura vertical (gradiente térmico) torna a atmosfera instável, facilitando a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical, conhecidas como cumulonimbos — as principais responsáveis pelas trovoadas.

Durante o dia, o solo aquece devido à radiação solar intensa, aquecendo também o ar junto à superfície. Este ar quente tende a subir (convecção). Quando encontra o ar frio em altitude, o contraste térmico gera movimentos verticais muito intensos. Se houver humidade suficiente, o ar ascendente condensa-se rapidamente, formando nuvens altas, que podem atingir 10 km ou mais de altitude.
A instabilidade criada por este processo pode dar origem a aguaceiros fortes, trovoada, granizo e, por vezes, rajadas de vento. Estas trovoadas tendem a ser mais frequentes durante a tarde, quando o aquecimento diurno atinge o seu máximo, e ocorrem de forma localizada e repentina.
Em regiões do interior de Portugal, como o Alentejo e o interior Centro e Norte, este tipo de fenómeno é particularmente frequente durante o verão. No litoral, embora mais raro, também pode ocorrer quando a depressão em altitude se posiciona de forma favorável.
Apesar de ser mais comum as trovoadas formarem-se durante a tarde, devido ao aquecimento solar, também podem ocorrer durante a noite — sobretudo quando a principal responsável é a depressão isolada em altitude (gota fria).
Nestes casos, o papel do calor à superfície diminui, mas o ar muito frio presente nos níveis altos da atmosfera continua a criar forte instabilidade, especialmente se ainda houver alguma humidade acumulada nos níveis baixos. A presença da depressão em altitude mantém ou intensifica os movimentos verticais do ar, promovendo a continuação da convecção, mesmo durante a noite.
Além disso, se a depressão for bastante ativa e estiver centrada sobre uma região específica, pode provocar a formação contínua de núcleos convectivos, mesmo sem o contributo direto do calor diurno. Isso é mais comum em situações de outono ou primavera, mas pode ocorrer também no verão.
Chuva de lama poderá ocorrer
Associada à vaga intensa de poeiras em suspensão na atmosfera, a precipitação que ocorrer será de lama. Esta situação manter-se-á até ao fim de semana, no entanto, o período crítico acontecerá até à madrugada de sexta feira.

Quando massas de ar carregadas de poeiras vindas do Saara atingem a Península Ibérica, é comum vermos o céu esbranquiçado, o ar mais seco e, por vezes, ocorre a famosa chuva de lama — ou seja, a precipitação mistura-se com essas poeiras em suspensão e acaba por sujar tudo: carros, varandas, janelas…
Entre os efeitos negativos, destaca-se a degradação da qualidade do ar. A presença de partículas finas, como o PM10 e o PM2.5, pode prejudicar a respiração, afetando especialmente pessoas com asma, alergias ou doenças respiratórias. Estas poeiras também têm impacto na saúde em geral, podendo provocar irritações nos olhos, garganta seca e dificuldade em respirar, sobretudo em grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos. Nos transportes e na produção de energia, a visibilidade pode ficar reduzida, dificultando a aviação e a condução em estrada, além de os painéis solares perderem eficiência devido ao pó acumulado. A própria chuva de lama suja janelas, carros e equipamentos ao ar livre, obrigando a limpezas frequentes e podendo causar pequenos danos.
Por outro lado, existem também efeitos positivos. As poeiras transportam minerais como ferro e fósforo, que contribuem para a fertilização natural dos solos, sendo benéficas para zonas agrícolas e ecossistemas que carecem desses nutrientes. No oceano, estas poeiras alimentam o fitoplâncton — organismos microscópicos que servem de base à cadeia alimentar marinha e que também ajudam na absorção de dióxido de carbono da atmosfera. Além disso, estas intrusões de poeiras são valiosas para a ciência, pois ajudam os investigadores a estudar padrões atmosféricos, circulação do ar, alterações climáticas e a monitorizar a origem e o percurso das massas de ar em larga escala.
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