Tornados e trombas de água. Quais são as diferenças?
Os fenómenos meteorológicos extremos têm vindo a ganhar cada vez mais atenção devido ao seu impacto crescente nas populações e infraestruturas. Entre os fenómenos atmosféricos mais impressionantes e, por vezes, destrutivos, encontram-se os tornados e as trombas de água. Embora muitas vezes confundidos, estes dois fenómenos apresentam diferenças significativas em termos de formação, localização, intensidade e consequências.

O que é uma tromba de água?
A tromba de água (ou tromba-marinha) é um fenómeno semelhante ao tornado, mas ocorre sobre uma superfície aquática — geralmente o mar, mas também pode acontecer em lagos ou rios de grande dimensão. Embora partilhe várias características com o tornado, a tromba de água é, na maioria das vezes, menos intensa. Ainda assim, pode representar perigo para embarcações, zonas costeiras e estruturas próximas do litoral.
As trombas de água dividem-se em dois tipos principais:
- Trombas de água tornádicas: São tornados que se formam sobre água ou que se deslocam da terra para o mar, estando associadas a supercélulas.
- Trombas de água não tornádicas (ou justas marinhas): Formam-se geralmente a partir de nuvens cúmulo-nimbo em ambientes menos instáveis e não requerem a presença de supercélulas.
E um tornado?
Um tornado é uma coluna de ar em rotação violenta que se estende desde a base de uma nuvem de trovoada, geralmente uma supercélula, até à superfície terrestre. Este fenómeno pode ter ventos superiores a 300 km/h, embora a maioria dos tornados apresente velocidades inferiores. Os tornados formam-se principalmente em terra firme e podem causar elevados danos materiais e até perdas humanas, dependendo da sua intensidade e da área que atravessam.

A classificação dos tornados é feita com base na Escala de Fujita Melhorada (EF-Scale), que vai de EF0 (mais fraco) a EF5 (mais destrutivo). Esta escala baseia-se nos danos observados após a passagem do tornado, permitindo estimar a velocidade dos ventos envolvidos.
A formação de um tornado está normalmente associada a supercélulas — um tipo particular de nuvem de trovoada com uma corrente ascendente (updraft) rotativa chamada mesociclone. A presença de cisalhamento do vento (variação da direção e/ou velocidade do vento com a altitude) é fundamental para o desenvolvimento da rotação. Quando essa rotação se intensifica e se alonga verticalmente, pode descer até ao solo, dando origem a um tornado.
O processo inclui várias fases:
- Formação do mesociclone: Instabilidade atmosférica e cisalhamento do vento promovem a rotação dentro da nuvem.
- Desenvolvimento da coluna rotativa: O ar húmido e quente sobe rapidamente, gerando uma coluna de ar em rotação.
- Contacto com o solo: Quando a coluna descendente de ar frio (downdraft) interage com a rotação, pode forçar a descida da coluna rotativa até ao solo, formando o tornado.
Diferenças entre tromba de água e tornado
Apesar da aparência semelhante — uma coluna de ar em rotação — há várias diferenças importantes entre estes dois fenómenos:
1. Local de ocorrência
- Tornado: Forma-se sobre terra firme.
- Tromba de água: Forma-se sobre água (mar, lagos ou grandes rios).
2. Mecanismo de formação
- Tornado: Está geralmente associado a supercélulas, com forte instabilidade atmosférica e cisalhamento do vento.
- Tromba de água: As não tornádicas podem formar-se com condições atmosféricas menos extremas, muitas vezes em ambientes com menor cisalhamento do vento.
3. Intensidade
- Tornado: Pode atingir velocidades superiores a 300 km/h e causar destruição significativa.
- Tromba de água: Normalmente apresenta ventos menos intensos, muitas vezes inferiores a 100 km/h, embora algumas possam tornar-se tornados perigosos se atingirem terra.
4. Duração
- Tornado: Pode durar de alguns minutos até mais de uma hora.
- Tromba de água: Geralmente dura menos tempo, entre 5 e 15 minutos.
5. Risco e impacto
- Tornado: Representa elevado risco para pessoas, edifícios, veículos e infraestruturas.
- Tromba de água: É mais perigosa para embarcações e para zonas costeiras, mas raramente causa danos significativos em terra (exceto se for tornádica e atingir solo).
Semelhanças entre tornados e trombas de água
Apesar das diferenças, há vários aspetos em comum:
- Ambos envolvem uma coluna de ar em rotação intensa.
- São fenómenos visíveis através de um funil (ou tubo) de condensação que liga a nuvem ao solo ou à superfície da água.
- Podem estar associados a trovoadas.
- Exigem atenção e precaução devido ao potencial perigo.
Portugal, devido à sua posição geográfica e ao longo litoral atlântico, é um local relativamente favorável à formação de trombas de água, especialmente durante o outono e primavera, quando o mar está mais quente em relação ao ar frio que chega em altitude. Nestes períodos, a instabilidade atmosférica pode favorecer a formação de trombas de água, principalmente ao largo da costa do Algarve, da Costa Vicentina, da região Centro e mesmo em zonas dos Açores e Madeira.
Casos de trombas de água observadas em Portugal incluem:
- Outubro de 2022: Formação de várias trombas de água ao largo de Portimão e Lagos.
- Janeiro de 2021: Tromba de água avistada na Figueira da Foz, associada a uma frente fria.
Em geral, estas trombas de água não causaram danos, pois dissiparam-se ainda sobre o mar ou eram de baixa intensidade. No entanto, a sua observação tem vindo a aumentar, também devido à maior disponibilidade de vídeos e imagens partilhados nas redes sociais.

Embora menos frequentes, os tornados também ocorrem em Portugal. O país já registou episódios significativos com impacto em áreas urbanas e rurais. Um dos mais conhecidos foi o tornado de Silves e Lagoa em 2012.
Exemplo marcante:
- Tornado de 16 de novembro de 2012 (Algarve): Um tornado de forte intensidade atingiu os concelhos de Lagoa e Silves, provocando danos em habitações, escolas, árvores e automóveis. Estima-se que tenha sido classificado como EF2 na escala de Fujita, com ventos entre 179 e 217 km/h.
Este caso demonstrou que, embora raros, os tornados em Portugal podem causar sérios danos, sobretudo quando ocorrem em zonas urbanas.

Outros casos incluem tornados no Baixo Alentejo, Ribatejo e até na região Norte.
Uma questão frequentemente levantada é se as alterações climáticas podem levar a um aumento da frequência e intensidade destes fenómenos em Portugal. Embora os tornados e trombas de água dependam de condições atmosféricas específicas, há indícios de que uma maior instabilidade atmosférica — causada por aquecimento do mar e maior humidade — pode favorecer a ocorrência de mais trombas de água e, eventualmente, tornados.
Ainda é cedo para estabelecer uma relação direta e definitiva.
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